Árvore de Cultura: Pequis e pequizais como artefatos culturais entre os Kuikuro do Alto Xingu

Para uma parte da humanidade, inserida numa modernidade que se finge autossuficiente, o
mundo vegetal se resume a um cenário, por vezes hostil, por vezes belo. Mas as plantas são os organismos que nos trouxeram até aqui: que tornaram o planeja habitável, que ofereceram alimentos e medicamentos, que possibilitaram a agricultura e a própria cultura. Para outra parte da humanidade, porém, as plantas são reconhecidas como sinônimo de alimento, remédio, vida. É esta interação - visceral, poética e essencial - que esse livro revela. A vegetação, a biodiversidade, a paisagem não são coletivos de organismos e sim de relações que envolvem também as pessoas, seus desejos e pensamentos. A separação entre natureza e cultura assim se desfaz, dando lugar a um mundo de diversidade de trânsitos e possibilidades. Os Kuikuro habitam este mundo, em convívio e relação com outros povos, animais e plantas, no Alto Xingu. Mas uma planta destaca-se: o pequi, como parte da história e do cotidiano, dos corpos e do território desse povo indígena. Em um mergulho no mundo habitado por Kuikuros e pequis, Maira Smith nos conta sobre a seleção, cultivo, manejo e usos do fruto. Ao mesmo tempo revela como o modo de vida desses indígenas foi modelado pelas interações com a planta. Maira mostra que o pequi, para indígenas como os Kuikuro, é mais que parte da cultura, é a própria vida. Árvore de Cultura contribui ainda para a análise crítica das políticas de acesso a conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade e repartição de benefícios, reposicionando os termos da questão. Trata-se afinal de proteger modos de vida, o mundo e as relações que os sustentam.